sábado, 26 de novembro de 2011


– Ei…
Uma voz soou baixa. Distante. Quieta. Ou não tão quieta assim, talvez meus pensamentos que estivessem mais altos que o normal. Será que era comigo? Eu deveria responder? Quem sabe ele não ia emb… Meus olhos pesaram, com uma rapidez inesperada, e a minha consciência que se foi.
Silêncio.
Toques. Mãos fortes, pesadas. Balançando meus ombros de uma forma meio bruta – Você está aí? Acorda! Guria… Você está dopada?
– M… mmm…
– O que? Não estou entendo.
– Larga. – Gemi fraco.
– Larga o que, guria?
– Me larga. – Falei um pouco mais alto, de forma brevemente compreensível.
– Não vou te deixar abandonada em uma rua deserta. Sem consciência. Provavelmente chapada, dopada, bêbada ou algo assim
– Para de falar, minha cabeça tá doendo! – Resmunguei. Mas. Que. Porra. O que eu tinha feito? Nada estava claro ou fazia alguma noção. Tudo o que eu conseguia sentir era aquela dor de cabeça profundamente irritante, que me assombrava e fazia o mundo parecer 10 vezes mais confuso do que realmente era. Ou mais alto. Menos nítido. Bom, pelo menos tudo já havia parado de girar… – Quem é você?
– Achei que tinha pedido silêncio.
Olhei para o garoto que estava falando comigo, finalmente focalizando seu rosto. Cabelos longos e pretos. Olhos com uma tonalidade indescritível, meio castanho, meio mel. Pele branca. Completamente vestido de preto, também. E pelo que eu podia notar, ele tinha um gosto musical bom. Usava uma camiseta do Iron Maiden e carregava uma mochila lotada de bottoms de bandas diferentes.
Dei-me por conta e percebi que estava o encarando. Aquilo estava ficando constrangedor, olho no olho, proximidade demais… Diabos, não é normal um garoto vir te socorrer altas horas da madrugada. Abaixei rapidamente meus olhos e continuei falando, como se nada tivesse acontecido:
– Responde logo, caramba.
– Meu nome é Daniel.
– E?
 E eu sou o garoto que vai mudar tua noite.
Soltei uma risada irônica e voltei a olhá-lo. Ele tinha feições bonitas, apesar de meio misteriosas. O que não escondia o reflexo de bondade que carregava consigo. Talvez,só talvez, ele fosse um garoto tão perdido quanto eu, que estava saindo de uma boate e achou uma doida desmaiada na rua. Ou talvez… Ele só tivesse me achado. Por bem ou por mal, estava melhor do que sozinha.
– Esqueceu a humildade na esquina anterior?
– Nós não estamos em uma esquina, estamos em um beco. Agora, me diz, o que faz aqui?
– Olha… – Eu ia começar a falar, quando notei que não lembrava. O que eu estava fazendo ali, afinal? A última lembrança em mente era de uma briga caótica e uma escapatória para o banheiro feminino. E alguns comprimidos. E algumas bebidas… –Merda.
– Lembrou? – Ele riu. Uma risada um pouco rouca, meio encantadora… Ok, foco na conversa.
– Não totalmente. E é melhor você não saber, acredite. É melhor até que eu não saiba. Vamos só sair daqui, quero ir para minha casa.
– Você está consciente de seus atos? Consegue levantar?
– Deixa de ser idiota e me ajuda.
– Muito cedo para xingamentos
– Vai logo. – Estendi minha mão e o indaguei com o olhar. Continuou parado – Por favor? – Ele apenas deu de ombros e a segurou, me puxando forte de encontro ao seu corpo. A única coisa que eu não esperava, é que minha consciência iria se perder mais uma vez com a rápida subida.
[…]
Abri os olhos.
Com uma luz me cegando aos poucos e fazendo com que eu quisesse socar certo alguém, só por me deixar justamente embaixo de um poste, que incrivelmente, estava com uma lâmpada fluorescente acesa.
– Bela adormecida. – Ele cumprimentou. – Quer café?
– Mas que porra…
– Você é muito boca suja.
Lancei um olhar de reprovação e tomei o café das mãos alheias. – Que horas são?
– Passaram-se duas horas desde que você caiu em meus braços. Foi uma cena linda, típica de filmes românticos e blá blá blá…
– Cala a boca. Você ficou me observando todo esse tempo? E, aliás, como eu fui parar aqui nessa…?
– Estamos em uma praça, só para constar. E eu te carreguei. Você já estava em meus braços mesmo, fazer o que. A propósito, você não é pesada, não foi nenhum esforço. E por fim, não, eu não fiquei te observando por duas horas… – Ele pausou e me encarou. Como se estivesse falando demais. Eu apenas dei sinal para que continuasse – Eu fiquei te observando por quase duas horas, nos 10 minutos restantes, eu fui comprar café.
– Você… Tem algum problema? – Disse surpresa com toda a resposta que ele havia dado. E também um pouco encantada, mesmo sem querer.
– Eu pareço ter algum problema?
– Garotos não costumam me tratar bem, você sabe…
– Talvez você tenha conhecido os garotos errados.
– E quem é o certo? Você?
– Se você diz…
Revirei os olhos e voltei a tomar meu café. Ficamos assim, dando patadas um no outro e conversando em uma troca de olhares silenciosa por um tempo. Eu me perguntava o porquê dele fazer tudo isso por uma estranha. E tentava compreender o que se passava em sua mente, o que estava pensando no exato momento.
Ele? Estava parado. Muito pensativo. Muito quieto. Uma vez ou outra me olhava e sorria. Desviando rápido, achando que eu não notaria. Eu estava gostando da companhia daquele estranho. Ou melhor, eu estava gostando da companhia de Daniel. Pois isso era tudo o que eu sobre ele. Seu nome e que gostava de Iron Maiden. Isso não podia terminar bem…
– Posso te fazer uma pergunta? 
– Diga, Daniel.
– Você sabe o meu nome, eu não sei o seu
Não havia pensado nisso. Ele não sabia meu nome, eu que era a completa estranha. Bêbada e drogada, que ele tinha encontrado desmaiada e que tinha certo senso de humor negro. Ri comigo mesma e decidi brincar um pouco.
– E se eu não quiser falar?
– Você me deve essa…
Rimos os dois juntos. Sem mais nem menos, e também, sem parar tão cedo. Acabamos que por vencidos e continuamos conversando, sobre nada com nada, apenas assuntos bobos e piadas sem graças. Nada de mais questionamentos.
E por fim, a hora passou. O tempo amanheceu. Conversa vai, conversa vem… E a hora de ir embora chegou. Por que eu não queria ir? Eu parecia aquelas criancinhas bobas que não querem deixar o parque de diversões após um dia divertido. Era tão estranho se apegar a alguém que você não conhecia? Bom… É a vida. Apenas me despedi rapidamente e o ouvi gritando, quando eu já estava a uma distancia considerável:
– Ei, eu disse que iria mudar sua noite!
Abri um sorriso largo e voltei correndo até seus braços. O abracei forte e sussurrei em seu ouvido – Obrigada, viu? A propósito, meu nome é Lizandra. – Parecendo não ter uma reação apresentável quando o soltei, eu apenas fui. O deixei lá, com uma cara de bobo, devido a uma atitude inesperada. Minha atitude inesperada, que sequer eu conseguia imaginar como arrumei coragem para tomar.
Segui para minha casa, concluindo no caminho, que ele realmente mudou minha noite. E meu dia. E quem sabe mais para frente, minha vida(im-mutable)

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